sábado, 11 de setembro de 2010





Colégio Estadual Rotary
Alunos:Suzana Freire
Ysis Santos
Rafael Queiroz
Jesseleide Ribeiro
Uane Santos
José Williames
Série:3° D
Turno:Matutino


• As Ganhadeiras de Itapuã

Dona Francisquinha
Nascida e criada numa pequena colina de Itapuã de onde se vê o mar, quando Francisca Passos, a Dona Francisquinha, começa a lembrar de tudo o que viveu, nos convida a uma deliciosa viagem no tempo, por um lugarejo distante onde só se via mar, areia, lendas e poesia. Conhece cada cenário e cada história com a intimidade de quem, além de ter participado de tudo, também se tornou uma pesquisadora diletante. Quando fala em escolas, “até em faculdade já me levaram”, ou mostra os tesouros que reuniu nesses anos - livros, fotos, reportagens e objetos -, ela nos convence de que tantas histórias bonitas não merecem mesmo ser esquecidas.
“Aqui todo mundo vivia da pesca. A praia, além da areia, era um tapete verde: salsa, cheia de flor. Tanto que foi por acaso que um pescador da rede de xaréu achou a pedra de São Tomé. Deu esse nome porque era véspera do dia dele, 20 de dezembro de 1602. E aí construíram a cruz e a capela de palha. A cruz está lá até hoje, só mudou o nome, pra Piatã. Tinha a festa todo ano, a gente ficava a noite toda: fazia a fogueira, as senhoras rezando, as meninas dançando, as crianças brincando e os homens no samba. Foi a primeira festa de Itapuã. Ainda vou lá todo ano, a gente reza e acende a fogueira. Enquanto eu estiver viva, a tradição não acaba”, diz ela.
Ganhadeiras “Minha mãe era ganhadeira. Você sabe o que é isso?”. Para explicar, dona Francisquinha recita uma poesia antiga “que ninguém sabe quem fez”: “Nascida na Praia de Itapuã, comprando peixe barato, pescado pela manhã/Somos velhas ganhadeiras que veio negociar/Trazendo pouco dinheiro para o peixe encontrar/Nós compramos e assamos e tornamos a vender/O dinheiro que ganhamos não chega para comer/Adeus que já me retiro/Adeus que já vou embora/Adeus até outra hora”. A venda era feita no Mercado de Santa Bárbara, na Baixa dos Sapateiros, para onde as ganhadeiras iam andando, conta ela. Enquanto a mãe ia vender o peixe, ela ficava em casa tomando conta dos irmãos e do bisavô. “Aqui na rua só tinha três casas de telha, o resto era de palha. Minha mãe sempre dizia pra eu fechar a porta, mas sabe o que era a porta? Um pano que amarrava em dois pregos”, conta ela, rindo.No chão das casas, o costume era colocar areia alva da praia e folhas de pitanga: “Chão de tijolo só tinha na escola. Foi em 1926 que eu fui pro colégio público. Fazia com capricho, queria ser professora. Lia tudo, até papel velho. Naquele tempo não tinha nada aqui, nem jornal, nem livro. Os pais da gente diziam que tinha que tratar bem a professora porque ninguém queria vir pra cá. Então cada semana uma mãe lavava a roupa da professora, um pai dava o peixe, se fazia a farinha, separava a parte da professora. Os alunos varriam a escola, carregavam água, ganhava ”bolo” e ainda queriam bem a ela, não era como hoje não”.
Sobre o seu sonho de ser ser professora, as colegas sempre caçoavam: “Só se for do cabo da vassora”, sem imaginar que um dia dona Francisquinha seria convidada de honra em muitas escolas de Salvador, para contar as suas histórias. Naquele tempo, ela nem conhecia Salvador: “Só ouvia falar, minhas colegas diziam pra eu ir na cidade, ver o bonde, que era bonito como quê”. Os primeiros veranistas chegavam “de carroça, pela praia, porque não tinha estrada”. Quando o primeiro posto de saúde de Itapuã foi inaugurado, Dona Francisquinha empregou-se lá, como auxiliar de enfermagem: “E lá mesmo me aposentei”.
Os namoros e casamentos aconteciam ali mesmo. “O namoro era nas salas de dança e nos recados. A criatura que me ensinou a fazer renda vivia dando recado pra eu levar pro namorado e aí eu ganhava cocada, amoda, bolachinha de goma”. Dona Francisquinha também teve o seu amor, “uma companhia muito boa, que durou 30 anos e nove meses. Ontem, fui até lá visitar ele”, diz ela, referindo-se ao pequeno cemitério de Itapuã. Antes de se despedir, acenando na porta da sua graciosa casa cor-de-rosa, ela recita outro verso das antigas festas de Itapuã: “Ele hoje não foi à pesca, por causa do temporal/Trago anzol e trago linha pra o peixe pegar/Pra vender à freguesa nesse dia festival/Sou pobre pescador que vive nas ondas do mar/Somente pegar o peixe pra freguesa comprar/Eu vou ver minha jangada, meu barquinho sem par/Que vem velejando lá pelas ondas do mar/Duros ventos já encontro, lá pelas ondas do mar/Sou pobre pescador, o perigo é de enfrentar”. Francisquinha, figura lendária do bairro de Itapuã e fundadora do grupo Mantendo a Tradição, faleceu poucos dias após essa entrevista, em 2001. A sua irmã, Dona Helena, é hoje uma Mestra Popular da Cultura.
COMO SURGIU O GRUPO
Esta iniciativa cultural surgiu em março de 2004, nos terreiros das casas de Dona Cabocla e de Dona Mariinha, onde um grupo de pessoas motivadas pelo interesse no fortalecimento da identidade cultural de Itapuã se reunia semanalmente para trocar informações sobre as antigas tradições do lugar. As principais conseqüências dessas rodas de conversa e samba foram a compilação de um repertório de cantigas e sambas de roda e a criação do grupo AS GANHADEIRAS DE ITAPUÃ.
O grupo conta com a participação de 10 crianças, 06 músicos - que tocam instrumentos de corda e percussão - e 17 senhoras (Cantadeiras, Ganhadeiras, Lavadeiras) que com suas vozes de tom muito peculiar encantam os ouvintes a cada apresentação realizada. As componentes do grupo são pessoas que conhecem bem a história deste poético bairro, pois elas trazem na memória o registro de uma vida onde reflete toda a intensidade do Sol e da Praia de Itapuã, das Dunas e Lagoas do Abaeté, dos Cajueiros, Cambuis, Mangabeiras, Gajirus e Araçazeiros de frutos e sombras deliciosos e confortantes. E na peleja do dia a dia nunca se esquecem de louvar o divino e celebrar a vida.

Assim, pois surgiu o grupo AS GANHADEIRAS DE ITAPUÃ, batizado com este nome em homenagem as mulheres negras, escravizadas ou libertas, que no século XIX viviam do ganho, ou seja, da venda de produtos alimentícios transportados na cabeça, dentro de tabuleiros e gamelas. E principalmente em homenagem às suas remanescentes: as antigas ganhadeiras de Itapuã, que até o inicio do século XX ainda existiam na localidade. Elas compravam os peixes nas mãos dos pescadores, tratavam-nos, colocavam pra secar e quando os preparava saiam a pé com seus balaios na cabeça caminhando até o centro de Salvador, para vendê-los nas feiras da cidade e ganhar o sustento da família.

O grupo tem como objetivo principal trazer à tona toda a riqueza desta identidade cultural, proporcionando à comunidade e aos visitantes, momentos de alegria, fortalecendo a tradição das festas populares do bairro, e levar a cultura de Itapuã para outros lugares do Brasil e do mundo, participando de eventos onde se celebra a diversidade cultural e a autodeterminação dos povos.

Em dezembro de 2007 o grupo As Ganhadeiras de Itapuã recebeu o Prêmio Culturas Populares 2007 – Mestre Duda 100 Anos de Frevo – concedido pelo Ministério da Cultura do Brasil, através da Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural (SID).

FALANDO POUCO MAIS DA HISTORIA DAS GANHADEIRAS DE ITAPUA
O trabalho do grupo é um belo musical, que envolve cantigas, cirandas e o samba de roda praieiro de Itapuã. Estes ritmos compõem a base do espetáculo que busca contar um pouco do que era o jeito de ser e de viver do itapuãzeiro*. O grupo é composto por mulheres, homens e crianças com idades que variam entre 08 e 77 anos. São lavadeiras, baianas de acarajé, domésticas, donas de casa, costureiras, músicos, profesores, produtores e estudantes.

As Ganhadeiras de Itapuã já se apresentaram por 02 vezes em Festivais de Cultura Popular realizados no estado de Goiás: no Encontro Afro-Goiano – (Sebrae-Go) – em maio de 2006 e no VII Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, em julho de 2007. Participou do “Show das Águas” ao lado de Margareth Menezes, Mariene de Castro, Gerônimo e Saul Barbosa, no Teatro Castro Alves - Salvador-Ba. Realizou a abertura do show do percussionista Gustavo Di Dalva, durante o 13º PERCPAN, também no Teatro Castro Alves, em Salvador.

http://ganhadeirasdeitapua.blogspot.com
http://www.myspace.com/ganhadeirasdeitapua

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